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Por Larissa Feitosa, Goiás

15/05/2024 04h02 Atualizado 15/05/2024

Militares são denunciados por tentarem matar major da PM ♨️ torturado

Um major da Polícia Militar teve uma grave lesão neurológica, entrou em coma profundo e lida com sequelas renais ♨️ por conta de tortura que sofreu durante um curso do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Goiás. As agressões ♨️ e tentativas de ocultação dos crimes, segundo investigação do Ministério Público, foram praticadas por sete policiais militares, que foram denunciados ♨️ à Justiça.

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“Certos de que o estado de saúde do major ♨️ havia atingido níveis críticos e que, por certo, ele não se recuperaria, preferiram aguardar até o seu esperado falecimento, quando ♨️ poderiam entregar o seu corpo em um caixão lacrado à família, alegando a contaminação pela Covid e impedindo que ♨️ os fatos viessem à tona e fossem investigados”, diz o documento.

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Os crimes aconteceram em outubro de 2024 ♨️ e são mantidos em sigilo desde então. Por conta disso, a assessoria do Tribunal de Justiça de Goiás não ♨️ soube dizer se a denúncia já foi aceita pelo Poder Judiciário. Veja abaixo qual era a função de cada policial ♨️ e por quais crimes cada um foi denunciado.

Coronel Joneval Gomes de Carvalho Júnior: Comandante imediato da vítima junto ao Comando ♨️ de Missões Especiais foi denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura na modalidade de omissão;Tenente-coronel Marcelo Duarte Veloso: Comandante ♨️ do Bope e diretor do Comando de Operações Especiais (Coesp) foi denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura na ♨️ modalidade de omissão;Coronel David de Araújo Almeida Filho: Médico do Comando de Saúde, responsável por atuar no local do curso, ♨️ foi denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura na modalidade de omissão;Capitão Jonatan Magalhães Missel: Coordenador do curso do ♨️ Bope foi denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura;Sargento Erivelton Pereira da Mata: Instrutor do curso do Bope foi ♨️ denunciado por tortura; Sargento Rogério Victor Pinto: Instrutor do curso do Bope foi denunciado por tortura; Cabo Leonardo de Oliveira ♨️ Cerqueira: Instrutor do curso do Bope foi denunciado por tortura;

O entrou em contato com 10 dos 13 advogados ♨️ de defesa que constam no processo. Akaua de Paula Santos, que representa o sargento Rogério Victor, disse que não pode ♨️ comentar sobre o processo, pois ele é sigiloso, e que não teve acesso à denúncia em questão.

A defesa de ♨️ Marcelo Veloso negou todas as acusações da denúncia e alegou que o major teve complicações devido à participação no curso ♨️ de operações especiais e recebeu assistência médica imediata dos acusados. O advogado Caio Alcântara argumentou que não há indícios de ♨️ crimes e o acusado colabora com as investigações (leia nota completa no fim da reportagem).

Os outros advogados não responderam até ♨️ a última atualização da reportagem.

Tortura

O documento ao qual o teve acesso foi assinado por três promotores diferentes, como medida ♨️ de segurança. Nele, é dito que o 12º Curso de Operações Especiais do Bope teve início no dia 13 de ♨️ outubro de 2024, com uma aula de campo em uma fazenda em Hidrolândia. Lá, todos os alunos, incluindo ♨️ o major, foram submetidos a um percurso de 16km em uma estrada de terra, equipados com uma mochila e ♨️ fuzil.

O documento diz que, durante o trajeto, os alunos fizeram flexões, polichinelos e abdominais ao ar livre, enfrentando gás lacrimogêneo. ♨️ A partir disso, começaram a ser agredidos com tapas na cara e “intensa pressão psicológica”, com xingamentos e provocações, além ♨️ de afogamento dentro de um tanque com água.

Na madrugada do dia 14, todos foram levados de ônibus para a Base ♨️ Aérea de Anápolis, onde começaram a ser feitas “Instruções Técnicos Individuais”, que segundo o documento, consistem em técnicas de ♨️ manuseio de armas, contato tático com o terreno, combate corpo a corpo e outros.

Nas dependências, o Ministério Público afirma que ♨️ o coordenador do curso, Capitão Jonatan Magalhães, e os instrutores Erivelton, Rogério e Leonardo passaram a agredir violentamente o major. ♨️ O documento diz que o oficial foi torturado com tapas no rosto, pressão psicológica, varadas, pauladas e açoites de corda ♨️ na região das costas, nádegas e pernas durante três dias seguidos.

As agressões aconteceram, inclusive, durante um “momento pedagógico”, que conforme ♨️ a denúncia, “extrapolaram e muito os objetivos do curso”.

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Persistente

O major chegou a reclamar com um colega que a equipe de ♨️ instrução estava sendo “rigorosa demais com ele” e, por conta disso, ele foi levado para “um mergulho” em um ♨️ lago frio à noite, sob a justificativa de que seria para amenizar suas lesões.

Depois disso, o Ministério Público narra que ♨️ as agressões contra a vítima passaram a ser cada vez mais frequentes e severas. Como o major sempre foi mais ♨️ persistente que outros alunos e tinha alta patente, os instrutores aumentavam o grau de tortura contra ele na expectativa de ♨️ que ele desistisse do curso.

“Todos compartilhavam do mesmo objetivo: pressionar o ofendido (major) a se desligar do curso, especialmente devido ♨️ à sua posição como o oficial mais graduado entre os alunos”, diz o MPGO.

Major passa mal

O documento narra que, no ♨️ dia 16 de outubro, o major foi novamente submetido à longas práticas de tortura e precisou ser atendido pela equipe ♨️ médica do Comando de Saúde, que tinha como médico responsável o Coronel David de Araújo.

Segundo o MPGO, o major foi ♨️ atendido já bem debilitado, desidratado e com baixa frequência cardíaca. Ele foi desligado do curso por conta disso e, enquanto ♨️ era conduzido para uma viatura, desmaiou. O major, então, foi levado ao Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), mas enquanto ♨️ ainda estava dentro da ambulância, entrou em coma profundo.

O documento narra que o major teve lesão neurológica grave e ♨️ não respondia a nenhum estímulo. Além disso, a equipe médica do Huana constatou que ele estava com rabdomiólise - uma ♨️ ruptura do tecido muscular que faz com que uma proteína seja liberada no sangue e afete os rins.

‘Pacto de silêncio’

Mesmo ♨️ em situação tão grave, na noite do dia 16 de outubro, os policiais decidiram transferir o major para o ♨️ Hospital Santa Mônica, em Aparecida de Goiânia, pois a unidade é considerada de confiança dos militares. Lá, segundo o ♨️ documento, o major voltou a ser atendido pelo coronel médico do curso do Bope, David de Araújo.

Segundo o documento, David ♨️ disse aos médicos do Huana que eles não precisavam comunicar nada do caso à família do major, pois ele mesmo ♨️ faria. Mas os familiares só foram informados sobre a situação do oficial na manhã do dia 17 de outubro.

Além do ♨️ coronel médico David de Araújo, os policiais militares Jonatan Magalhães, Marcelo Duarte Veloso e Joneval Gomes de Carvalho também sabiam ♨️ do estado de saúde do major, mas não fizeram nada. A denúncia descreve a situação como um “pacto de silêncio”.

“Essa ♨️ conduta negligente e conivente revela a nítida intenção de ocultar os fatos e impedirem que a família fosse devidamente informada ♨️ sobre debilidade em que se encontrava o major”, diz o Ministério Público.

O documento diz que os policiais trabalharam juntos ♨️ para garantir que a informação não chegasse ao conhecimento de ninguém. Por saberem que o estado de saúde do major ♨️ era grave, esperavam que o oficial morresse e pretendiam alegar que ele teve uma contaminação por Covid-19.

Hematomas no corpo de ♨️ major da PM após curso do Bope, em Goiás —
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: Reprodução/MPGO

Descoberta da família

Somente na manhã do dia 17 ♨️ de outubro é que a esposa do major ficou sabendo da internação do marido. O documento narra que ela tomou ♨️ conhecimento de que o major estava com Covid através de um amigo de farda pessoal da vítima. A mulher, então, ♨️ passou a ligar para o coordenador do curso do Bope, que não atendeu às ligações.

Quando a esposa chegou ao hospital, ♨️ foi informada que só poderia saber sobre o marido pelo médico coronel David. O documento diz que ele chegou ao ♨️ hospital de uniforme militar completo e arma, dizendo que o major estava com Covid-19 e 40% do pulmão comprometido.

A tomografia ♨️ comprovando o comprometimento do pulmão do oficial nunca foi apresentada, segundo o Ministério Público. Além disso, uma tomografia feita horas ♨️ antes no Huana não encontrou sinais de Covid.

Existem documentos médicos que demonstram que o major precisava ser submetido à hemodiálise, ♨️ por causa dos rins comprometidos, mas isso não foi oferecido na internação feita pelo médico coronel.

A investigação do Ministério Público ♨️ cita também que a esposa do major também percebeu que, apesar da gravidade, o marido não estava sendo assistido por ♨️ nenhum médico intensivista e estava sozinho em um cômodo do hospital. O major estava em uma maca, com ♨️ o corpo coberto por uma manta até o pescoço.

A mulher decidiu transferir o marido para um hospital de confiança, mas ♨️ segundo a denúncia, o médico coronel tentou colocar vários obstáculos, como a condição da Covid, falta de documentação e outras ♨️ questões burocráticas.

Depois de muita insistência, conforme o documento, a esposa conseguiu levar o marido para o Hospital Anis Rassi, em ♨️ Goiânia, onde foram constatadas lesões corporais gravíssimas e exame negativo para coronavírus.

Tentativa de ocultação

O Ministério Público evidencia que, mesmo ♨️ depois da mudança de hospital, os policiais envolvidos nos crimes tentaram destruir provas. O documento narra que um informante da ♨️ polícia, a mando do tenente-coronel Marcelo Duarte Veloso, tentou pegar o prontuário do major no primeiro hospital em que ♨️ ele foi internado, em Anápolis, dizendo à equipe que representava a família.

Mas, por acaso, a esposa do oficial estava ♨️ na unidade de saúde naquele momento e impediu a ação. A denúncia também cita outra ocasião, em que um ♨️ militar, que não está entre os denunciados, foi ao hospital Anis Rassi e tentou acesso ao quarto em que ♨️ a vítima estava.

“Na ocasião, a esposa da vítima foi informada e se dirigiu até a recepção para conversar com o ♨️ policial militar, que se recusou a identificar-se, afirmando apenas que lá estaria por determinação do Comando”, diz o documento.

Esse militar, ♨️ segundo a investigação, era um motorista do tenente-coronel Joneval, um dos denunciados pelos crimes.

Após investigação feita pela Corregedoria da Polícia ♨️ Militar, o Comando da Academia da Polícia Militar reconheceu irregularidades e aceitou que o major recebesse o diploma de conclusão ♨️ do curso do Bope.

Porém, segundo o Ministério Público, todos os sete policiais citados continuam trabalhando normalmente e apenas os três ♨️ instrutores foram punidos com 12 horas de prestação de serviço: Leonardo, Rogério e Erivelton.

Sequelas

O major recebeu alta do hospital no ♨️ dia 27 de outubro de 2024, mas acabou contraindo uma infecção pelo cateter do tempo de internação e acabou sendo ♨️ internado na UTI por mais 13 dias.

Atualmente, ele faz intensa fisioterapia pulmonar e motora, mas ainda enfrenta sequelas renais, teve ♨️ perda de força nos braços e pernas, também sofre com formigamento e choques no corpo.

Fora isso, segundo o Ministério Público, ♨️ o major ainda lida com um grande trauma emocional causado pelo sentimento de impunidade e “desprezo” de seus companheiros de ♨️ farda. O documento diz que ele “nunca mais foi o mesmo”.

Nota Marcelo Veloso

Falo na condição de advogado do TC Marcelo ♨️ Veloso, que nega todas as acusações feitas na denúncia.

Jamais ocorreu tortura, e a imputação de tentativa de homicídio não tem ♨️ embasamento jurídico. A suposta vítima teve complicações decorrentes da participação no curso de operações especiais; a assistência médica foi imediatamente ♨️ prestada pelos acusados.

Sobre os pedidos cautelares de afastamento das atividades e entrega de armas, além de não haver aparência dos ♨️ supostos crimes, falta contemporaneidade: os fatos alegados teriam ocorrido em em outubro de 2024, e de lá até hoje ♨️ nenhum evento indica que o acusado tentou atrapalhar as investigações - pelo contrário, sempre adotou postura colaborativa.

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